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Escolas de Mistérios

Tão antigo quanto o Homem é a busca por respostas para as questões que ele próprio desconhece, as coisas ocultas ou superiores. Afortunadamente, sempre existiram, na história da humanidade, lugares onde eram estudados os princípios mais sagrados ou transcendentais do conhecimento, frequentados por Professores ou Veneráveis Mestres, estudantes e múltiplos buscadores.

Claude_Lorrain_030As Escolas Iniciáticas ou Escolas de Mistérios são esses lugares onde ocorre a transmissão da sabedoria dos séculos. Fundadas e sustentadas por homens e mulheres que percorreram o Caminho Iniciático, são lugares onde se estudam e praticam os princípios da sabedoria universal ou ciência superior. Toda autêntica Escola de Mistérios possui Ciência e Filosofia, também possui conhecimentos Artísticos e Religiosos ou Místicos. Normalmente seus estudos são orientados a buscar compreender os mistérios da existência, o porquê dos principais eventos da vida, os segredos e leis do universo e da natureza e principalmente do Ser Humano, buscando levar este último a verdadeira realização interior.

Os diversos conhecimentos estudados nas Escolas de Mistérios são normalmente transmitidos em dois níveis: um nível externo ou público e outro nível secreto ou iniciático.

No nível público, mais básico, ocorre a adequação dos mistérios, ou conhecimentos superiores, aos costumes ou meio cultural vigente, pois é sabido que o ser humano somente consegue expandir para novos conhecimentos se estes estiverem próximos do seu campo de percepção, similar ao passo de uma perna, que não pode ir muito distante da posição em que se encontra a perna de apoio. Porém a finalidade deste nível público é preparar, àqueles que queiram, para ascender a um nível mais objetivo e claro, saindo do campo das superstições e crenças, onde a compreensão mais ampla e a prática do conhecimento são os principais focos, os quais permitem ir formando o que se chama Iniciado nos Mistérios.

A separação em dois níveis de ensinamentos aparece em todas as sociedades esotéricas da antiguidade. Entre os pitagóricos, por exemplo, sabe-se que os recém-ingressos, enquanto estudavam diversas matérias como matemática, filosofia e símbolos sagrados, também eram orientados a permanecer por anos mantendo silêncio, como prova inicial de humildade e aspiração a receber os mistérios mais elevados, desta maneira os ensinamentos de Pitágoras saíam pouco ao nível público. Já no orfismo grego, o círculo público se expressava mais através jesus-apostolosdas formas artísticas, como o teatro, a música e a dança, onde se instruía a consciência das multidões com os princípios eternos mais elementares e de forma simbólica. Enquanto que, no Cristianismo primitivo, Jesus falava às multidões em parábolas e concluía dizendo que “aquele que tiver ouvidos, que ouça”; quando os apóstolos o interrogaram sobre o porquê da diferença de ensinamentos dados às multidões e aos discípulos, ele respondeu:

“Porque a vós é dado conhecer os mistérios, mas a eles não lhes é dado; porque aquele que tiver (ou seja, o que tiver o interesse e a ciência para decifrar os mistérios) se dará mais e terá em abundância; porém o que não tiver (esse entendimento) até o pouco que tem lhe será tirado. Porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem”.  Mat. 11-13

No oriente, especialmente no Tibet, os candidatos passavam também por provas até finalmente serem aceitos como alunos e depois disso ainda se passavam alguns anos nas matérias básicas até poderem acessar os níveis mais profundos, também pouco difundidos ao público geral.

Neste sentido podemos ver que as formas religiosas, ou seja, as grandes religiões antigas, geralmente são o aspecto mais público ou externo de tais escolas de mistérios. Seus grandes iniciados ao trazerem ao mundo vários ensinamentos, fazem-no por uma necessidade de formar novos sábios, o que por uma consequência faz surgir um novo movimento ou escola iniciática, a qual, posteriormente, difunde-se nas multidões.

“A Natureza revela seus mais íntimos segredos e partilha a verdadeira sabedoria somente àquele que busca a verdade por amor à própria verdade, e que aspira ao conhecimento para conferir benefícios aos outros, não à sua insignificante personalidade.”  H.P. Blavatsky

As escolas de mistérios também têm um ciclo vital e, como qualquer organismo que se desenvolve na natureza, nascem, crescem, reproduzem-se (multiplicam-se em várias vertentes) e por fim definham e morrem. Diz-se então que são formas mortas, porque já não conduzem aos mistérios, apenas servem como um sistema de regulação da conduta social, ou sistema religioso, muitas vezes dogmático.

krishna arjuna
Krishna fala com Arjuna

É assim como Krishna explica a Arjuna no Bhagavad Gita:

“Ò Arjuna, sempre que há declínio da virtude e predominância do vício, encarno-me. Para a proteção do bom e destruição dos malfeitores e para o restabelecimento do Dharma sou nascido de era em era.”  Krishna

Ou seja cada vez que os princípios religiosos de um povo decaem e viram meros costumes sociais e dogmas religiosos, surge então um novo mensageiro, um novo Avatar, para restaurar os princípios da religião cósmica, os princípios eternos, ou seja, a ciência iniciática original. Esse novo mensageiro ou profeta traz a mesma mensagem, porém revestida de um novo formato, para que seja vista pelas multidões como uma renovação, do contrário não produziria o efeito psicológico que tem que produzir, pois não estremeceria a consciência nem produziria a motivação para realizar uma revolução interior. Assim, os princípios eternos se mantém, porém agora são tratados com outra aparência e com isso vão surgindo os diferentes movimentos espirituais que marcaram a história da humanidade.

E de acordo com as necessidades de cada período vão surgindo as Escolas de Mistérios, cada uma trazendo os princípios eternos em uma forma que possa ser compreendida e praticada em seu tempo. Assim, as grandes Escolas Iniciáticas são vertentes da sabedoria universal que possuem os seus tesouros sagrados mais além do plano tridimensional, nas dimensões sutis da natureza e segundo a lei de afinidades, cristalizam-se em determinada época e região para cumprir com sua finalidade de expandir o nível de consciência da humanidade.

Ao analisarmos o início de cada escola de mistérios, podemos verificar ali um momento onde o conhecimento é transmitido de forma mais pura, original. Os antigos filósofos gregos denominaram de “Gnosis” todo esse conhecimento original que trata sobre os grandes mistérios, e de “Gnóstico” todo aquele que transcende o nível básico de formas, opiniões e crenças e passa a buscar a autêntica sabedoria, através de uma prática do conhecimento. De maneira que, independentemente do lugar e momento histórico onde surgiu uma escola de mistérios, podemos aplicar os termos gregos e considerar que se trata de uma vertente de “Gnosticismo”, ou seja, os elementos da sabedoria gnóstica estão presentes em todas as autênticas Escolas de Mistérios.

Realizando uma verificação na antiguidade para buscar as características gnósticas nos diferentes povos do mundo, as encontraremos claramente presentes nos elementos helenísticos orientais, incluindo as Escolas de Mistérios da Pérsia, Mesopotâmia, Fenícia, Índia, Egito,etc., e na América e suas culturas serpentinas dos Nahuas, Toltecas, Astecas, Zapotecas, Maias, Chibchas, Incas, Quéchuas, etc.

Como referência da Gnosis antiga podemos citar alguns exemplos:

pitagoras
Pitágoras de Samos

− Tales de Mileto (séc VII a.C.) – autor da máxima “nosce te ipsum” (conhece-te a ti mesmo), inscrita na Escola do Templo de Delfos, Grécia.

− Sólon (séc VII a.C.) – quem teve acesso às tradições iniciáticas por meio de Escolas do Antigo Egito.

− Pitágoras (séc VI a.C.) – e sua Escola Pitagórica, como citamos, considerado uma figura legendária, um Mestre de Mistérios Maiores que segundo contam as tradições só foi conhecido pelos altos iniciados. Ensinou sobre a imortalidade da alma e as reencarnações (metempsicose). Pitágoras fundou a Escola Pitagórica que possuía iniciação secreta. Eles floresceram em uma colônia grega na Itália. Foi Pitágoras que inventou a palavra filosofia (amizade ao saber) e revelou segredos sobre as dimensões da natureza e as músicas superiores.

− Sócrates (séc V a.C.) – o maior referencial filosófico acadêmico de todos os tempos. Um marco gigante na história da humanidade capaz de ter produzido o que os historiadores chamam de “Pré-socráticos” e “Pós-socráticos”, um equivalente ao “antes de Cristo” e “depois de Cristo”. Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores (dialética). Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: interrogação e a maiêutica (concepção de ideias). Os principais representantes gnósticos do período pós-socrático são: Platão e Aristóteles.

Podemos citar também as correntes gnósticas que influenciaram o surgimento do Cristianismo, sendo contemporâneos a ele, como são: os essênios, os batistas (do qual participava João) e os nazarenos.

A partir daí vamos encontrar os gnósticos históricos, assim denominados pela cultura geral na atualidade, que viveram em sua maior parte durante os quatro primeiros séculos da Era Cristã.

Desses podemos destacar os seguintes:

− Basílides de Alexandria (Egito) – século II.

− Valentin (Itália) – século II. Fundador da Escola dos Valentinianos.

− Aparecem as escolas dos Setianos e dos Ofitas.

Por aquela época também vamos ver correntes degeneradas do Gnosticismo. Duas delas são bem conhecidas por historiadores, as quais são denominadas: Marcionismo, de Marcion, e Cerdonistas, de Cérdon. Essas duas correntes trilharam pela linha oposta dos gnósticos levando a mensagem distorcida e permitindo assim que se criassem falsas ideias a respeito da verdadeira Gnosis, surgindo então muitos dogmas que ficaram em futuras instituições ligadas ao cristianismo.

alquimistas
Alquimista

Após esse período, diz o Dr. Samael Aun Weor, que a Gnosis permaneceu mais oculta até os dias de hoje, porém ele mesmo nos demonstra que a sabedoria dos mestres se deixou perceber algumas vezes durante a Idade Média, como, por exemplo, através de:

− Os Templários (França) – século XII.

− Os Cátaros (França) – século XII.

− Os célebres Alquimistas imortalizados nas pessoas de Aureolo Paracelso, Alberto Magno, Nicolas Flamel, Raimundo Lulio, Saint German, Cagliostro, Fulcanelli, entre outros.

Convém destacar que muitas destas correntes até aqui citadas possuem na atualidade pretensos representantes que em nada se assemelham, já que perderam seus princípios originais e servem a fins meramente caprichosos, às vezes políticos, outras vezes comerciais.

Continuando nossa investigação, ainda encontraremos personalidades ilustres que documentaram a Gnosis para o mundo como podemos citar:

vitruvio
O Homem Vitruviano nos traços de Da Vinci: Alusão ao conhecimento de si mesmo

William Shakespeare; Goethe, com seu Fausto; Leonardo da Vinci com sua genial ciência oculta unida à arte e à religião; Richard Wagner, com suas obras clássicas “Walkírias”, “Tristão e Isolda” e “Parsifal”; e Carl Gustav Jung, com seus textos gnósticos de psicologia.

Assim, podemos ver que a sabedoria superior esteve presente em muitas épocas e culturas, expressando-se também, isoladamente, em alguns grandes cientistas e artistas. De maneira que o conhecimento dos mistérios esteve, quase sempre, ao alcance daquelas pessoas sinceras que anelavam um tipo mais objetivo de conhecimento, que pudesse esclarecer as dúvidas mais elementares da existência humana e também elucidar os mistérios mais elevados da natureza e do Cosmos, buscando assim liberar-se de alguns sofrimentos inúteis do diário viver e ter uma vida mais edificante conquistando a felicidade real. Portanto, o objetivo principal de todas as autênticas escolas de mistérios é liberar o homem comum de seus próprios problemas, através do autoconhecimento, levando-o a autorrealização íntima.

“Como os estudos gnósticos progrediram extraordinariamente nesses últimos tempos, nenhuma pessoa culta cairia hoje, como outrora, no erro simplista de fazer surgir as correntes gnósticas de alguma única latitude espiritual.

Embora seja certo que devamos levar em consideração em qualquer sistema gnóstico, seus elementos helenísticos orientais, incluindo Pérsia, Mesopotâmia, Síria, Índia, Palestina, Egipto, etc., nunca deveríamos ignorar os princípios gnósticos perceptíveis nos Nahuas, Toltecas, Astecas, Zapotecas, Maias, Chibchas, Incas, Quéchuas, da Indo América e etc.

Falando francamente e sem rodeios, diremos: A Gnosis é uma função bastante natural da consciência, uma ‘philosophia perennis et universalis’.”    Samael Aun Weor

Equipe Gnosis Brasil


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4 Comentários

    1. A serpente é um arquétipo universal que representa a energia sexual. Quando se fala de culturas serpentinas refere-se as que de alguma forma abordam este aspecto, como por exemplo: As culturas maia, asteca, tolteca, egípcia, hindu (onde há a presença da serpente kundalini) entre muitas outras, ou seja, não apenas culturas das Américas.

  1. A serpente, representada no caduceu, tb equivaleria à ascenção dos estados físico (incluindo mental) e espiritual? Na verdade, acredito que ela traduz a energia da sexualidade sutil, o que seria o mesmo que a energia vital potencualizada.
    Quero agradecer e parabenizar pelo artigo. Apenas senti falta de nomes femininos (sempre omitidos na história da humanidade) e ressaltar que Helena Blavatsky foi importantíssima na turma dis alquimistas, não?
    Tenho muito interesse em ‘cursar’ com a Gnosis Brasil. Farei contato. Abs!

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